Cedinho



Sair cedinho de casa e, já na rua, perceber a movimentação na vizinhança, as luzes dos quartos acesas. Ali, o cheiro de café sendo passado; aqui, o ruído de chuveiro elétrico; na casa seguinte, algumas instruções sendo dadas aos que ficarão em casa.
Passam por mim mães com crianças no colo, indo pra escola, ainda dormindo e eu imagino que trabalho deram para serem vestidas, assim, molinhas de sono. Vejo o carro do vizinho saindo da garagem de marcha-a-ré, soltando fumaça e a despedida da esposa enquanto fecha o portão, segurando o robe na altura do seio porque não fecha direito.
Me dá bom dia um vizinho que vai apressado, carregando a bolsa de ferramentas e a marmita. Bom dia! Escuto um ruído e volto para olhar uma bicicleta rangendo ao peso do pedreiro que também vai para seu trabalho, ali mesmo na vizinhança. Vou andando e ouço os latidos de cachorros inconformados em ficar sozinhos, cachorros que choramingam enquanto seus donos saem pelos portões. Uma galinha está ciscando na grama em frente da casa e eu penso: será que fugiu enquanto o portão estava aberto e ninguém percebeu?
E o ponto de ônibus vai enchendo com a chegada das pessoas que vêm de todos os lados, saem de todas as ruas, travessas e caminhos que desembocam na estrada principal. Têm seu destino, sua rotina, sua direção. Cada uma vai tratar da vida, vai lutar por ela, vai matar o leão diário. Participo da procissão, me misturo aos outros e sou envolvida no burburinho especial de cada manhã.

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