Filme: A Última Ceia

O filme A Última Ceia é frio, cortante, amargo, direto. Como a miséria, como o ódio racial, como o remorso. Três gerações de guardas prisionais morando juntos. Um presidiário negro será executado em algumas horas. Seu último pedido, desenhar. Este tem um filho que também desenha, aparentemente sua única forma de expressão. No restante do tempo, sofre pressão da mãe que não o aceita como é, gordo, mudo, devorando obcecadamente todas as guloseimas da casa. Mas o que na verdade ela não aceita, é a vida que está levando, à procura de emprego, às portas de ser despejada do lugar pobre em que mora, às vésperas de se tornar viúva, obrigada finalmente a andar a pé, pois o carro também morre. Os guardas Hank e Sonny encaminham o preso para a cadeira elétrica. O jovem Sonny fraqueja e apanha do pai, Hank, na frente de outros guardas que tentam impedir a surra. Um deles é negro e Hank exige que tire suas “mãos sujas” de cima dele. Em casa, Sonny desfere ao pai uma única pergunta: “Você me odeia?” ouve a afirmativa de Hank e responde: “Eu, ao contrário, sempre o amei” e se mata com um tiro. Hank e seu pai o enterram no quintal ao lado de suas duas mulheres. Logo a seguir, Hank pede demissão e compra um posto de gasolina. Passa a frequentar a lanchonete em que a viúva do negro executado está trabalhando. Dá carona para ela. E socorre a ela e ao filho, logo após ter sido atropelado na autoestrada. O menino morre e ela se desespera com a perda dele porque é como se perdesse sua última tábua de salvação, aquilo que ainda a mantém indo em frente. É quando um romance inicia-se entre os dois. Tórrido. Desesperado. Algo como uma chance de ainda terem algo próximo do amor. Eles se precisam. Cada um por seus motivos. Remorso, sobrevivência. O homem dá o nome dela, Letícia, ao posto recém-comprado e dá a ela o carro que fora do filho. Em troca ela lhe compra um chapéu e vai a casa dele com a caixa do presente que é avaliado pelo pai dele que percebe o que está acontecendo e diz a ela que Hank segue as tradições, porque “homem só sabe bem o que é uma mulher quando transa com uma negra”. Ela não precisa dizer mais do que “Conheci teu pai” para que Hank leve o velho para uma casa de repouso, porque “ali tratarão bem” dele. Assim, sem titubear. Faz o que julga ser preciso para alcançar a nova vida ao lado dela. Pinta e enfeita a casa, recoloca os móveis nos seus lugares e busca a mulher. Diz-lhe que quer cuidar dela ao que ela lhe responde “Isto é bom, porque eu preciso de alguém que cuide de mim.” Enquanto ele sai pra comprar um sorvete pros dois, ela anda pela casa e encontra fotos de Sonny e os desenhos que seu marido fizera dos guardas prisionais antes de sua execução. Entende tudo. Quem é aquele homem, o que ele está tentando fazer e o que ela mesma está fazendo ao lado do executor de seu marido? Se debate, chora, revolta-se contra a vida que lhe prega mais esta peça. Quando Hank volta com o sorvete, automaticamente aceita que lhe dê colheradas na boca, olha do rosto dele para o céu, depois para os três túmulos existentes no quintal, de novo praquele homem sentado ao lado dela, compartilhando um sorvete, aparentemente é tão simples, um homem e uma mulher sentados na porta de sua casa à noite, tomando sorvete. Será que suas trágicas histórias particulares serão regeneradas através daquela união?

Um comentário:

  1. Nilva...que filme é esse???? Nunca falamos dele...parece uma navalha cortando a carne da sociedade, expondo suas visceras podres...credo!!!!

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