Haendel

Acordei cantarolando trechos do "Messias" de Haendel. Mais precisamente o Glory to God. E, claro, ouvi mais de uma vez o Cd que tenho, assim que tive oportunidade.

É majestoso. Todo o oratório é muito belo, harmonioso e simples, bom de cantar. Isso é fundamental na música. Quando não temos vontade de cantar junto, quando não somos capturados pela melodia, o compositor não teve sucesso no seu intento. É realmente belo o oratório "Messias" tanto nas harmonias, no som do cravo, nas orquestrações que envolvem as árias e as partes do coral. Não é a toa que se tornou tradição o fato de a congregação ou auditório ficar de pé quando do anúncio do Aleluia de Haendel. É assim que somos e seremos sempre orientados a ouvi-lo. Ficar de pé é uma demonstração física de reverencia.

Diz-se que essa tradição começou porque na primeira apresentação do "Messiah" em Londres, o rei da Inglaterra, George II, estava presente e quando o "Hallelujah" começou, o rei, embevecido e impressionado com a portentosidade e a beleza daquela oração, automaticamente levantou-se de sua poltrona. Quando viram que o rei estava em pé, toda a audiência ergueu-se (ninguém permanece sentado na presença do rei em pé[protocolo real])1.

Creio que ficar de pé deve nos lembrar que somos animais mais que especiais. O ficar de pé nos lembra a grandiosa mudança que ocorreu quando erguemos a coluna e, ao ficarmos sobre os pés e olhamos para o alto, para o céu e os luminares, invadiram-nos sentimentos de assombro e perplexidade, sentimo-nos maravilhados com tais fenômenos. Assim começamos a descobrir o divino em nós, na natureza e além. Algo que não compreendemos com a razão. Algo que precisamos do equilíbrio entre nossa natureza animal e espiritual para conseguirmos alcançar. Sentimos que existe um ímã que nos move da letargia e da comodidade do assento em que estamos. Que nos impregna com aquilo que está acima de nós. É o inexplicável sentimento que nos impulsiona para cima, para o alto, para necessidades maiores que aquelas que nos ligam à terra. Deve ter sido um impulso desta natureza que sentiu George II ao ouvir os acordes do Hallelujah. E assim se colocou de pé.

Ficar de pé para ouvir Aleluia de Haendel simboliza que somos capazes de, através da música, nos religarmos a Deus, ao belo, à arte. Também simboliza, através da letra, que acreditamos no Cristo que é o "Rei dos Reis", o "Senhor dos Senhores".

Fico maravilhada quando me dou conta da viagem que essas músicas têm feito através do tempo, através das gerações, através dos povos que as têm ouvido e reverenciado.
Deslumbro-me sempre com o contralto, por ser o meu próprio timbre, em "He shall feed His flock like a shepherd" ou com "Every valley shall be exalted". Mas na verdade, não consigo me decidir sobre qual ária, qual recitativo, qual passagem de orquestra é mais bonita que a outra.

Haendel viveu há mais de 300 anos, entre 1685 e 1759. Compôs o oratório Messias, uma obra que tem 2 horas e 25 minutos, em apenas 21 dias, no ano de 1742.

Pois neste ano de 2011, eu prestei uma homenagem solitária a essa obra, ouvindo-a mais de uma vez. Em contrapartida, me beneficio do deslumbramento que toma conta de mim. Me faz um bem tremendo.


1 - informações encontradas na web.